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Sou doutora em Literatura. Escrevo há mais de 15 anos, mas sem disciplina. Sou aquela escritora que se guarda para o futuro, à espera de um grande acontecimento. Sinto que chegou a hora. É com retalhos e epopeias que me inventarei - com pequenos e grandes eventos - com fragmentos e grandes feitos - serei a tecelã de uma história e a sua heroína. Serei Penélope e Odisseu. Me acompanhe nesta viagem! Colunista da seção de Escrita Criativa na comunidade literária Benfazeja. Livros publicados: FLAUIS (2010) e RETALHOS E EPOPEIAS (Editora Patuá, 2012). Mais sobre mim em meu site oficial

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16 maio, 2011

As múltiplas vozes do poeta



Este é o novo artigo de minha coluna sobre ESCRITA CRIATIVA no site Benfazeja.





Gostaria de compartilhar com o leitor a seguinte experiência: em algum momento já lhe ocorreu uma idéia especial, incrível, sensacional; e você recorreu a leituras para encontrar um argumento ou desenvolvimento para a idéia inicial; e então, eis que as palavras do outro lhe sacodem as entranhas, ditas exatamente como você gostaria? Creio ser esta uma cena comum e recorrente, mas foi exatamente o que se deu na elaboração deste artigo. O tema e a questão crucial já transitavam em meu pensamento; voltei-me às leituras em busca de ressonância da minha voz crítica em um autor de respeito acadêmico; pois não escrevemos nunca sem o diálogo com o outro. Mas as minhas palavras já estavam pronunciadas, meu ímpeto crítico encontrava-se plenamente desenvolvido em outro texto de sacudir as entranhas. Trata-se do ensaio “A Inspiração” de Octavio Paz, que integra a renomada obra O Arco e a Lira. Toda a tentativa de dizer algo diferente será infrutífera, assim como toda tentativa de desenvolver meu pensamento inicial será pura repetição. Comunico, portanto, que este artigo não tem nenhuma pretensão de originalidade e será um manifesto diálogo com Octavio Paz, com quem concordo amplamente.
A experiência relatada, que marca a criação deste texto, coincide com a discussão que aqui pretendo colocar. O autor de qualquer texto deveria se envergonhar por estar em diálogo aberto e declarado com um texto publicado anteriormente? Questão ainda mais incisiva: precisamos nos manter eternamente atados a essa angústia da originalidade? Na verdade, tudo que é dito ou escrito não pertence tão-somente àquele que enuncia; em nossos textos encontram-se vozes distantes, anônimas, impessoais e muitas vezes imperceptíveis. “No fluxo de nossa consciência, a palavra persuasiva interior é metade nossa, metade de outrem” (p.145), afirma Bakhtin. Se somos formados por esse aglomerado de múltiplas vozes, pensamentos, inscrições e discursos, não se pode almejar o estatuto da originalidade, seja em uma conversa cotidiana, seja em um texto literário.
Para Octavio Paz, “O homem é pluralidade e diálogo, concordando e juntando-se consigo mesmo, mas também dividindo-se sem cessar. Nossa voz são muitas vozes. Nossas vozes são uma só voz”. (p.202) O paradoxo encontro/separação do eu é a base natural que constitui o homem. Acreditamos na existência da individualidade, no sujeito que age, pensa, interpreta e produz por meio de suas próprias escolhas e desejos. Temos uma identidade civil, digitais exclusivas, corpo físico único (apesar das similaridades entre gêmeos e sósias), conjunto de experiências e formações distinto. É natural, portanto, imaginar que o autor seja uma entidade única, que leva ao texto seu EU pleno de significação e que a leitura seja a decifração deste Eu tão individual, específico, especial. No entanto, é preciso considerar que o homem não é um conjunto de forças adquiridas na oficina de seu SER, fechado em um mundo distante de todos, mas sim um nó de forças interpessoais, que se forma no contínuo jogo de relações entre o eu e o nós.
Dessa maneira, o homem é sempre ele mesmo e o outro.  Não é um mero observador da vida, das outras pessoas; não está diante da história, mas é a própria história humana, é o próprio mundo e os outros.  Se esta é a realidade humana, as palavras usadas pelo autor do poema, da narrativa, da crônica não estão dentro nem fora, mas fazem parte de seu ser – como eu e outro. A palavra literária não é exterior ao homem, pronta para ser captada pelo bom observador ou pelo gênio inspirado, nem tampouco um dom que o acompanha desde o nascimento, interior, escondido em sua consciência como um tesouro, mas algo que o homem faz e que reciprocamente o faz. Escrever é fazer e não revelar um mundo oculto em nós mesmos ou intermediar a mensagem do sobrenatural. Poesia vem da palavra grega poien, que significa “fazer, produzir, gerar, nomear”. O poema passa a existir somente a partir da ação de nomear do poeta e este somente é um poeta graças ao poema produzido; antes da ação de produzir o poema, o poeta não é nada. Escrever é, assim, uma possibilidade de ação, dentre as muitas formas de agir e ser no mundo.
Na constituição do autor já se encontra o outro e, ao mesmo tempo, as palavras que formam o outro.  “A inspiração é essa voz estranha que arranca o homem de si mesmo para ser tudo o que é, tudo o que deseja: outro corpo, outro ser”. (PAZ, p. 220) Assim, escrever é naturalmente a descoberta do outro em si mesmo e concomitantemente a reconquista do eu original e completo. Ao fazer este texto, meu eu encontrou-se no outro Octavio Paz.

Bibliografia:

BAKHTIN, Mikhail. “O Discurso do Romance”. In: Questões de Literatura e Estética: a teoria do romance. São Paulo: Unesp/Hucitec, 1988.
PAZ, Octavio. “A Inspiração”. In: O Arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.

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