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Sou doutora em Literatura. Escrevo há mais de 15 anos, mas sem disciplina. Sou aquela escritora que se guarda para o futuro, à espera de um grande acontecimento. Sinto que chegou a hora. É com retalhos e epopeias que me inventarei - com pequenos e grandes eventos - com fragmentos e grandes feitos - serei a tecelã de uma história e a sua heroína. Serei Penélope e Odisseu. Me acompanhe nesta viagem! Colunista da seção de Escrita Criativa na comunidade literária Benfazeja. Livros publicados: FLAUIS (2010) e RETALHOS E EPOPEIAS (Editora Patuá, 2012). Mais sobre mim em meu site oficial

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09 maio, 2011

Por que voam os pássaros?





            Cismei de comprar uma calopsita. Precisava ter o pássaro em casa pousado em meu ombro, nos poleiros de dedo, abaixando a cabecinha para receber cafuné. Não demorou e chegou o Luca, amarelo como canário. Novinho, quase um bebê. Luca aprendeu a subir no dedo, a gostar de carinho, a dormir comigo sobre o meu peito, a nos chamar incansavelmente quando escapávamos da grande gaiola. Aprendeu a comer pão sobre a mesa do café e a cantar “cai-cai, balão”. Luz irradiante, amor puro de confiança. Três meses foi o tempo que saudou a memória. A frágil luz voou para o lado de lá. Simples ave passageira: não ficou, não voou. As asas cortadas permaneceram em casa, o canto costumeiro, o laço extremo que nos uniu. A imagem incongruente da realidade, marcando os hábitos soberanamente vivos: ali está, mas não está. Terrível é manter viva a memória, pois é fraca, esmaece, borra-se, e o tempo finda. Nada sobrou da ave passageira. Em morrendo um humano, o reencontro é certo, mas e o bicho? Sua simples energia voa para outros ares, distante, para irradiar em outro corpo, em outro espaço, em outro mundo, sem saber que aqui ficou minha consciência. Nada permanece imperecível na memória, sobraram apenas imagens imóveis do ser, fictícias, artificiais; borrões de canto, que o ouvido não capta mais.
            A vontade de recuperar a energia vital de Luca me levou a outras aves passageiras. Um casal de calopsitas: também não ficou. Lumi silenciou. Luna de asas crescidas voou para longe da gaiola. Chegaram os ágapes sem asas. Ligeiros e espertos. Liz se afogou. Tati construtora de ninhos foi tragada pela preta peluda.
            O resgate do amor chegou há um ano, com outro pequeno bebê, ainda mais novo, ainda mais tenro. O pequeno, de pronto, mostrou sua dependência. Jamais silenciava: o carinho era premente, o contato urgente. Chamava, chorava, como um bebê. Para comer, exigia a presença. Para dormir, pedia colo. Mais uma vez, os hábitos fundaram o mundo. De dedo em dedo, de ombro em ombro, sentado diariamente no notebook, comendo salsinha e alho sobre a mesa da cozinha, experimentando flores e folhas de um jardim inofensivo; o pé machucado e curado, a foto na orelha do livro, os passeios de carro.
            A asa cresceu. O susto levou o bebê para o telhado, de onde não soube descer. Soube simplesmente voar. Onde estará agora a ave passageira? Voando ainda mais alto? Comendo salsinha em outra casa? Correndo pelo chão em busca de carinho?
            Em nossa gaiola, emudecemos. Não temos asas para do alto encontrar, sobrevoando telhados e quintais escondidos. O chamado cessou. Nem de longe ressoa sua súplica. Se as aves devem voar, como os homens devem amar, não se acostumariam tão facilmente com cuidados tão caseiros. Mas se as asas foram mesmo feitas para voar, para além do doce calor humano, como pode um bebê viver sem o dedo, o cafuné e a presença humana nesta grande gaiola sem grades? Voou para a prisão da memória, como caímos repentinamente...



         

5 Comentaram. Deixe seu comentário também!:

well souza disse...

Belo texto, Carol. Independente do tamanho, animais de estimação ocupam um espaço enorme na 'nossa gaiola grande' e também no coração.

bjus

Mariana Collares disse...

Lindo texto! Cheio de lirismo. Uma pena que tão triste... :)

Anônimo disse...

Olá, Carolina.

Nossa! Seu texto me emocionou muito! Já tinha saudades desse seu cantinho lindo, de doces cantos e de ótimas reflexões.

Beijo grande.

Cronicando disse...

Triste pensar qe se foram. O bom é pensar que aqui estiveram. Adorei seu texto repleto de sentimento. Abraços! Kenny Rosa
(http://cronicandocomvoce.blogspot.com)

Unknown disse...

Lindo texto!

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